Polícia Militar realiza abordagens em bairros na zona norte de SP durante a Operação Saturação, lançada após uma onda de violência atingir a cidade. Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil |
Entre 1999 e 2011 o índice de assassinatos em São Paulo caiu quase 75%,
transformando o que tinha sido um dos estados mais perigosos do Brasil
em um dos mais seguros. Hoje a violência está crescendo novamente. Nos
últimos dois meses mais de 300 pessoas morreram na capital do estado em
uma guerra não declarada entre a polícia e o Primeiro Comando da Capital
(PCC), uma gangue de traficantes — o dobro do número no mesmo período
do ano passado. Mais de 90 policiais foram mortos desde janeiro; o total
em 2011 foi de 56. Parece certo que este ano fechará com o índice de
assassinatos no estado novamente em mais de 10 por 100 mil habitantes:
um nível epidêmico.
No início o governo estadual afirmou que o aumento de assassinatos
era passageiro. Ele se recusou a mencionar o PCC, aparentemente por
temer glamourizá-lo ou causar pânico. E isso o fez parecer complacente.
Em outubro o ministro da Justiça do Brasil disse que ofereceu reforços a
São Paulo, mas foram recusados. Não eram necessários, declarou Antônio
Vieira Pinto, o irritadiço secretário de Segurança do estado. Sua
homóloga federal, Regina Miki, sugeriu que São Paulo deveria aprender
com o Rio de Janeiro, que usa forças federais para expulsar os
traficantes de suas favelas sem lei (apesar de o índice de assassinatos
no Rio continuar o dobro do de São Paulo).
Agora as críticas provocaram uma reação. No final de outubro,
autoridades estaduais enviaram policiais a mais para Campo Limpo, Capão
Redondo e Paraisópolis, grandes favelas das quais elas acreditam que o
PCC tenha ordenado os crimes. Em 7 de novembro forças extras chegaram a
Guarulhos, uma cidade próxima. A “Operação Saturação” já levou a dezenas
de detenções, assim como apreensões de drogas e armas — e à descoberta
de um registro de nomes e endereços de oficiais que é considerado uma
lista de alvos a ser executados. Enquanto isso, as autoridades
finalmente aceitaram a oferta do governo federal de abrigar os líderes
do PCC em prisões de alta segurança em áreas distantes: um deles,
conhecido como Piauí, que é suspeito de ordenar o assassinato de pelo
menos seis policiais, mesmo estando preso, foi transferido em 8 de
novembro.
Nas ruas de Paraisópolis, a vida cotidiana parece ter mudado pouco
com a presença policial reforçada. Mas os moradores confidenciam que
depois que escurece eles se sentem menos seguros. Um estudante diz que
apesar de ser cumpridor da lei teme ser parado pela patrulha da ROTA, as
forças especiais do estado, que têm dedo pesado no gatilho. “Hoje,
quando eu me atraso minha mãe entra em pânico”, ele diz.
As autoridades estaduais dizem que os policiais estão sendo
assassinados por ordem dos barões da droga, cujos lucros estão
encolhendo; os que estão presos ressentem ser mantidos em celas
separadas, o que restringe suas atividades. Mas a polícia também faz
parte do problema. Em 13 de novembro cinco policiais foram detidos
depois que um vídeo os mostrou atirando em um homem sob sua custódia.
Muitos disparos mortais são feitos a partir de carros ou motos que
passam por pontos de tráfico de drogas: policiais estariam por trás de
alguns deles. O terrível olho-por-olho está fazendo novamente de São
Paulo um lugar mais sangrento.
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