O deputado Odair Cunha (PT-MG), relator da Comissão Parlamentar Mista
de Inquérito (CPMI) do Cachoeira, surpreendeu hoje (22) os integrantes
do colegiado ao pedir que a leitura do relatório final elaborado por
ele, prevista para esta manhã, seja feita apenas na próxima quarta-feira
(28).
Cunha disse que precisa de mais tempo porque está conversando e
recebendo sugestões de parlamentares. “Eu estou agora simplesmente
ganhando mais prazo para dialogar com o conjunto dos membros da
comissão”, justificou. Apesar de admitir que o conteúdo pode ser
aperfeiçoado, o relator não quis adiantar se vai ceder às pressões e
fazer mudanças no texto.
“O adiamento só demonstra insegurança, desconhecimento, e a cada ponto
que nós contestamos ele [o relator] se surpreende. Só se surpreende quem
não conhece o que assinou, o que é grave e triste”, avaliou o deputado
Onyx Lorenzoni (DEM-RS).
O deputado Carlos Sampaio (PSDB-SP) foi na mesma linha. “Ele [o
relator] sabe que as inconsistências são muitas, que os erros são
muitos, e, portanto, eu diria que o relatório é incorrigível, não temos
como alterá-lo. Ele não tem uma lógica investigativa, foi fruto de uma
perseguição política e nós temos que derrubá-lo”.
Na reunião da CPMI desta quinta-feira, o relator voltou a receber
críticas de parlamentares de vários partidos por ter recomendado que o
procurador-geral da República, Roberto Gurgel, seja investigado pelo
Conselho Nacional do Ministério Público. Segundo o relatório, o pedido
tem como base “indícios de omissão e prevaricação”. Segundo o Código
Penal, a prevaricação é crime praticado por funcionário público que
retarda ou deixa de praticar indevidamente suas atribuições.
O pedido de indiciamento de cinco jornalistas, entre eles, o chefe da sucursal da revista Veja
em Brasília, Policarpo Júnior, também foi alvo de queixa de senadores e
deputados. O jornalista, que aparece conversando com o contraventor em
gravações obtidas pela Polícia Federal, foi indiciado por formação de
quadrilha.
“As investigações sobre esse profissional nos permitem divisar que
Policarpo Júnior não mantinha com Carlos Cachoeira uma vinculação que se
consubstanciava apenas na relação de jornalista e fonte", diz um trecho
do relatório.
O deputado Miro Teixeira (PDT-RJ) pediu que o relator revisse a posição
sobre os jornalistas indiciados, especialmente, Policarpo Júnior. Miro
também defendeu o procurador-geral da República. “Não pode constar da
proposta do relator qualquer coisa relativa à Procuradoria-Geral da
República, como se estivéssemos aqui a tentar incriminar o
procurador-geral. Em nenhum momento foi votado algo que se aproximasse
de suspeita contra o procurador-geral”, garantiu.
Ainda durante a reunião, um grupo de parlamentares que se classificam
como independentes foi à Procuradoria-Geral da República protocolar um
relatório paralelo que, entre outros pontos, sugere a quebra do sigilo
de 15 empresas fantasmas que teriam recebido dinheiro da Delta
Construção e ficaram fora do relatório oficial.
O deputado Dr. Rosinha (PT-PR) defendeu o trabalho do relator Odair
Cunha e disse que o a entrega de representação na Procuradoria-Geral da
República foi apenas para chamar a atenção da imprensa.
Em nota, o governo de Goiás criticou o trabalho de Odair Cunha,
acusando-o de direcionar o relatório final ao governador Marconi
Perillo, a parte da imprensa e ao Ministério Público Federal. Segundo a
nota, Perillo não mais se manifestará sobre o assunto por já ter
fornecido todas as informações solicitadas pela CPMI. “A partir de
agora, [o governador se reserva do direito de] prestar as informações
relativas ao caso exclusivamente ao Superior Tribunal de Justiça, foro
apropriado."
Marconi Perillo é o único governador que teve pedido de
indiciamento no relatório final da CPMI. De acordo com o documento,
existem indícios de envolvimento de Perillo com o esquema chefiado por
Carlinhos Cachoeira.
A CPMI foi criada em abril para investigar as relações do contraventor
Carlos Augusto de Almeida Ramos, o Carlinhos Cachoeira, com agentes
públicos e privados, entre os quais parlamentares e empresários. Ele foi
condenado nesta semana a cinco anos de prisão como consequência da
Operação Saint-Michel, que apurou irregularidades no sistema de
transporte público no Distrito Federal.
0 comentários:
Enviar um comentário